Com a devida vénia, transcrevemos este excelente artigo de Paulo Nuno Vieira, Professor da Universidade Europeia
O Desporto como pilar de uma sociedade com valores
Vem treinar. Sê pontual e esforça-te por atingir o
objetivo de cada exercício. Supera-te. Coopera com os teus colegas e sê melhor
que o adversário. Sempre respeitando as regras do jogo, senão perdes. E se
perderes, treina mais. Sê mais pontual e esforça-te ainda mais, com mais rigor
e afinco. Organiza melhor a tua agenda, pois vais precisar de mais tempo de
treino e, também por isso, descansar mais. E não descures o rendimento escolar!
Corrige o teu comportamento com base no que o teu treinador te diz e, se por
mérito próprio ganhares, não relaxes: no próximo fim-de-semana há competição e
o teu adversário vai aparecer mais forte!
Tendo por base dados científicos que demonstram que o ser humano precisa de cerca de 10 mil horas de treino para ser um
expert na sua área de especialidade, que contexto melhor que o Desporto para
desenvolver, diariamente e desde cedo, valores como a pontualidade, o respeito, o rigor, a cooperação, a competição, a ética
e a humildade? Seja no voleibol, na esgrima ou no atletismo, por intermédio
do desporto escolar, das aulas de educação física ou do desporto associativo, a
prática desportiva pode e deve constituir-se como um pilar da sociedade.
Mas não está a ser. Em Portugal não
existe verdadeiramente uma cultura desportiva (mas sim alguma cultura
clubística). Ou porque os pais não estão sensibilizados para esta realidade, ou
porque os políticos não desenham medidas políticas de sinergia entre a educação
e o desporto, ou simplesmente porque os exemplos que vemos na televisão não são
os melhores.
Num estudo recente da Comissão Europeia, 64% dos adultos portugueses indica não praticar qualquer tipo de atividade física. Além das consequências em cima indicadas, os custos da inatividade física em termos de saúde são muito elevados, levando a doenças, como a obesidade, e conduzindo a uma produtividade laboral mais baixa.
A constante desvalorização da disciplina de Educação
Física promove a ausência de uma cultura desportiva, quer seja pela redução do
número de horas letivas, pela sua não contemplação para efeitos de candidatura
ao ensino superior ou pela sua inexistência no 1º ciclo do ensino básico.
E os pais dos atletas do desporto
associativo, que são o verdadeiro
pilar do sistema desportivo em Portugal (embora não formalmente reconhecidos),
são também algumas vezes vítimas da ausência de cultura desportiva. Por
consequência verifica-se por vezes que colocam exageradas expectativas no
rendimento desportivo dos seus filhos, sendo totalmente incapazes de assistir a
uma competição e disfrutar da alegria que estes sentem. Alguns assumem-se
inclusive como treinadores de bancada, pressionando os filhos e contradizendo
diretrizes específicas dos treinadores. Outros, não entendendo os benefícios do
desporto, tendem a castigar os filhos com más notas, não os deixando ir aos
treinos. Interessante é verificar que a investigação científica demonstra que
os alunos que obtém melhores notas na escola, são aqueles com melhores índices
de aptidão física e coordenação motora. A justificação para este facto
baseia-se no maior volume estrutural cerebral que as crianças mais aptas
fisicamente apresentam. Esta influência na estrutura cortical, em particular no
córtex frontal superior, tem um papel importante nos aspetos cognitivos e na
performance escolar, nomeadamente a nível da matemática e da leitura.
3 comentários:
Excelente artigo!
Recomendação de leitura para pais e atletas.
Obrigado.
Quantos aletas do Belenenses estiveram representados no Torneio/Prova do Entroncamento, no dia 17/04/2016?
Por decisão de índole técnica dos treinadores, não estivemos presentes nesse Torneio.
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