nadar CFB: Bruno Ramos em Entrevista

O nosso Bruno Ramos é há 7 anos atleta do CFB e é hoje em dia um dos melhores atletas nacionais - internacional, multimedalhado, nadador que tem integrado a nossa selecção nacional absoluta. O Bruno deu uma entrevista muito íntima ao "Chlorus", jornal online dedicado à natação que, com a devida vénia, aqui transcrevemos.

O Bruno, com a sua serenidade, sensibilidade, persistência, dedicação e qualidade, é um exemplo para todos os atletas mais novos que se iniciam neste exigente desporto. Vamos conhecê-lo melhor!

Entrevista:

Bruno Ramos é um nadador dos "quatro instrumentos". A música está desde cedo na sua vida, tal como a natação. Mas em criança também foi vítima de bullying na escola. "É algo que nunca consegui ultrapassar. Desprezo quem o faz. É um assunto muito grave e aque se devia dar mais atenção", afirma o atleta do Belenenses, em entrevista exclusiva ao Chlorus. Aos 23 anos, Ramos ainda mantém um sonho: " vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que um dia, quem sabe, consiga qualificar-me para uns Jogos Olímpicos".

Conta-nos um pouca da tua história nos tempos de criança?

Não há muito para contar, posso simplesmente dizer que nunca me faltou nada.

Quais eram as tuas brincadeiras preferidas?

Sempre gostei muito de jogar à bola com os amigos e basicamente tudo o que envolvesse atividade física, pois sempre fui uma criança muito "mexida" e muito ativa.

De que forma surgiu a natação na tua vida?

A minha mãe pôs-me a mim e à minha irmã a aprender a nadar no Clube de Natação da Amadora, onde evoluímos muito rápido. Quando me apercebi, eu já estava a ir para a pré-competição, nem dois anos depois.

Quando davas os primeiros passos na natação, o que imaginavas que poderias ser na modalidade?

Nunca pensei que pudesse vir a ser um desporto de que gostasse tanto e ao qual me dedico a 100% hoje em dia.

Se não fosse a natação, qual a modalidade por que poderias ter optado?

Na altura a minha mãe deu-me a escolher entre a natação e o futebol no Estrela da Amadora, que era mesmo ao lado.

Em 2014 saiste do Clube de Natação da Amadora e optaste pelo Belenenses. O que pesou na tua decisão?

Os meus treinadores na altura, Fernando Couto e Daniel Viegas, sem dúvida. E em segundo, a minha equipa.

Quais os teus objectivos para a presente temporada?

Tanto para esta como nas outras que passaram e nas próximas que virão, é tentar ser a melhor versão de mim mesmo. Seja uns Europeus ou uns Mundiais, seja o que for, o objectivo é tentar sempre dar o meu melhor.

Aos 23 anos ainda ambicionas participar nos Jogos Olímpicos?

Claro que sim, sem dúvida. Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que um dia, quem sabe, consiga qualificar-me para uns Jogos Olímpicos.

Portugal está de novo em confinamento. Como estás a manter a tua atividade desportiva?

Nesse aspeto, acho que fui muito sortudo, porque não me limitaram a nível de treino. Tenho piscina onde treinar, ginásio, fisioterapia, nutrição e por isso quero aproveitar este momento em que estou "só" focado a nadar.

Quais forma os momentos mais marcantes na tua carreira?

Um dos momentos mais marcantes até hoje, sem dúvida, foi quando ganhei a minha primeira medalha individual a nível nacional, aos 400 metros estilos, em júnior. Nessa prova, eu estava nas piores pistas, sem qualquer hipótese de lutar por um pódio, mas quando cheguei à parede e vi o meu treinador, Daniel Viegas na altura, dizer-me que tinha ficado em 2º lugar, eu não conseguia acreditar.

Muitos nadadores vão ficando pelo caminho numa modalidade muito exigente. Alguma vez pensaste desistir da natação?

Não, pois tive sempre bem assente na minha cabeça aquilo que queria e que tinha de fazer tudo o que pudesse para lá chegar. É um processo que demora, mas quero chegar ao "fim" e não querer pensar que "se ao menos tivesse feito assim ...". Quero chegar ao fim da minha carreira, independentemente de onde chegar, sabendo que fiz tudo ao meu alcance para chegar o melhor nível que conseguir.

Para lá da natação, o que fazes a nível profissional e de que forma consegues conciliar com o desporto?

Sou professor de natação. Estou de momento na Escola de Natação do Jamor, a dar aulas e com a pré-competição e na Gesloures, também a dar aulas. Tenho sorte, porque consegui ter um horário que não colide com os meus treinos, por isso está tudo estruturado para que consiga conciliar as duas coisas.

Tens uma forte ligação à música. Como surgiu essa paixão e como conjugas essa "veia artística" no teu dia a dia?

Comecei muito novo. Fui aprender a tocar guitarra com 5 anos. Aos 7 mudei para o órgão e entre os 11 e 12 mudei para o piano. Foi o instrumento a que me dediquei mais, tendo o nível 5 da escola ABRSM (Associated Board of the Royal Schools of Music). Há três anos iniciei o meu percurso na bateria.

O que é que ainda não sabemos sobre ti?

Sei tocar quatro instrumentos. Tenho um curso de ensino artístico especializado, nível 4, obtido na Escola Artística António Arroio.

Consideras-te tímido?

Sim, sempre fui muito introvertido. Mas depois de me sentir bem onde estiver, acho que me dou bem com as pessoas.

Arrependeste-te de alguma coisa na vida?

Sim, mas o passado é o passado e tento sempre estar grato por onde estou e pelo que consegui alcançar e focar sempre no que pode vir a acontecer.

O que te faz chorar?

Não tenho algo em concreto, mas posso dizer que sou, sem dúvida, uma pessoa emotiva. A música por exemplo. Eu adoro música. Música é algo que, independentemente de quem fores, de alguma maneira, consegue chegar a ti

Quem te faz sorrir?

Família, amigos, a minha namorada. Posso dizer que a minha irmã, acho que é a única ou das poucas pessoas, que me consegue pôr a rir quando eu estou mesmo, mesmo mal-humorado.

Abdicas muito da tua vida privada em prol da modalidade?

Acho que agora não tanto, tento sempre que posso desanuviar a cabeça. Estar com os amigos fora do contexto de treino, estar com a namorada, pois acho que é importante para o bem-estar psicológico não estar sempre focado no treino. Mas para tentar ser melhor e querer evoluir, sempre aabdiquei de muita coisa e fiz muitos sacrifícios. Enquanto oa meus amigos da escola iam sair ou jantar fora, etc, eu ia para a piscina treinar ou ia-me deitar porque no dia seguinte tinha treino de manhã cedo.

É-te fácil perdoar os erros dos outros para contigo?

Perdoar acho que sim, mas perdem completamente a minha confiança.

Qual foi a pior coisa que te fizeram?

Bullying. Sempre sofri muito de bullying desde criança na escola. É algo que niunca consegui ultrapassar. Desprezo quem o faz. Acho que é um assunto muito grave e que se devia dar mais atenção a este aspeto.

Qual foi o melhor conselho que recebeste?

Acho que o melhor conselho que já ouvi foi a minha mãe que me disse sempre, desde muito cedo, que querer é poder. E isso alimenta bastante a vontade de ser melhor.

Tens pendente algum pedido de desculpa a alguem?

Siceramente penso que não.

Qual foi a melhor coisa que disseram sobre ti?

As pessoas que realmente gostam de mim dizem-me coisas boas, não posso escolher uma. E agradeço imenso por ter pessoas à minha volta que realmente querem o meu bem. Mas uma vez disseram-me que "tu ganhavas a fábrica de chocolate", refrindo-se ao filme "Charlie e a fábrica de chocolate".

COVID 19? Não tive, mas fiz vários testes por ter sintomas.

Belenenses? Há 7 anos no Belenenses.

Treinadores? Fernando Couto e Daniel Viegas.

Cozinhar? Sei cozinhar, claro.

Comida preferida? Panados.

Cor? Sou de artes, por isso gosto de trabalhar com a cor.

Rede social? Instagram.

Tatuagens? Não.

Piercing? Não sei se conta, mas tenho uma argola na orelha esquerda.

Cicatriz? Sim.

Alergias? Sim.

Filme? 8mile, Rocky.